(316) A Sombra do Amor
Eram 7 da manhã quando cheguei a casa. As olheiras fugiam do rasgo de luz que penetrava na cozinha, cegando-me exaustivamente e reflectindo no chão uma sombra feminina. Em cima da mesa quadrada da cozinha estava deitada Myo.
O ainda curto sol reluzia-lhe a pele. Estava calor, mas não muito. Apenas o suficiente para criar uma pequena bolsa de transpiração sobre o seu braço desnudado e sobre o qual caía a alça do seu soutien.
Eu gosto de soutiens brancos. São límpidos e não trazem mensagens ou obrigações e desejos atrás. Vibram quando o sol lhes bate em cima.
Uma gota de suor descia para o imenso vale do seu antebraço. Antes de chegar à mão travei-a com o meu dedo indicador. Provei-a.
Eu não sou um expert nestas coisas, longe disso, mas esta gota de suor sabia a tudo o que a nossa relação representava. Era salgada, quente e acima de tudo distinguia-se de todos os outros sabores que me percorriam a língua naquele instante.
Tentei acordá-la.
- Myo!
Ela não diz nada. Mantém-se imóvel e muito quieta. A segunda tentativa levou-a a mexer um pouco as ancas e a subir ainda mais a saia já de si curta. Não tinha collants e um dos seus sapatos já estava caído no chão.
Aproximei-me e na sua perfeita orelha deixei-lhe a primeira marca das 7 da manha.
Nisto, ela esboça um sorriso enquanto dorme. Os mais belos sorrisos são aqueles quando dormimos. É das poucas alturas em que somos verdadeiramente genuínos. Não existem regras de etiqueta. O resmungar representa exactamente aquilo que sentimos. O sorriso também. Era genuinamente feliz, reconfortante, como se estivesse ali à minha espera desde sempre, e eu destinado a cair nos seus alvos braços.
Soltei mais um pedido para acordar e finalmente ela abriu um dos seus rasgados olhos castanhos em minha direcção. O olhar que me lançou foi tão doce e perfeito que as minhas pernas tremeram.
Desviei um vaso de tulipas, que decora esta mesa branca, numa cozinha branca, com panos brancos e sentei-me a seu lado.
Instintivamente, e sem uma única palavra, ela virou-se para mim - descaindo a cabeça contra as minhas pernas e deixando o seu longo cabelo negro ficar marcado pelo sol sobre o azulejo da mesa.
A imagem era perfeita. A sensação ainda melhor. A alça do seu soutien estava cada vez mais baixa e o fio que trazia o pescoço afundou-se por dentro da camisa.
Comecei a percorrer o seu cabelo com os meus dedos finos, pulsando cada vez que lhe tocava na pele do seu fino pescoço. Parei numa das suas marcas, e cerquei-a com o toque em torno daquele sinal que as suas orelhas escondem. Não há nada mais excitante e estimulante que conhecer estas pequenas marcas repletas de unicidade de olhos fechados.
Podemos ter toda a intimidade do mundo com alguém, mas conhecer mentalmente os locais exactos destes traços de uma pessoa são os indicadores perfeitos do grau de intimidade de uma relação.
- Pára – disse ela dando uma ligeira risada que despertava os seus lábios e dentes perfeitos. – Estás-me a fazer cócegas – afiançou, num jeito de quem queria interagir e desejava muito mais que um simples toque.
Naquele instante, em que os seus lábios se moveram e os dentes se soltaram, o meu peito parecia um tornado de emoções, de tão pesado e agitado que estava. Decidi tomar outro rumo.
O sol agora já a preenchia completamente e até olhando apenas para os contornos da sombra sobre aquela mesa me levavam a suspirar.
Percorria agora a sua face com os meus dedos, ajeitando o cabelo que teimava em tapar a sua orelha direita. Cheguei-me um pouco para o lado e fiquei a olhar para ela como se este fosse o último olhar, no último minuto da minha vida.
Beijei-lhe as imperfeitas sobrancelhas e o sinal que tinha junto à vista esquerda. Ela abriu os olhos e começou a subir a sua face. Não tirava a vista dos meus lábios húmidos e trémulos tal o desenfreado volume de emoções que me assaltavam os sentidos. A minha mão agora cobria a sua nuca. O meu polegar aconchegava a sua orelha. O suor já começava a escorrer no meu peito.
Lentamente ela começa a colocar a sua mão no meu estômago e de forma circular começa a espalhar as pequenas gostas húmidas do meu peito por todo o meu tronco.
De uma vez só voltámos a estar sentados, enquanto nos beijávamos delicadamente. O sol batia-nos agora nas costas, formando na mesa, entre os espaços que deixávamos abertos, uma sombra que parecia ser a de um único corpo. É engraçado, mas as sombras são um pouco como aquela nossa visão infantil sobre as formas das nuvens. Vemos nelas o que queremos ver, pois estamos afectados em termos de sentidos por uma força no peito que quase não deixa respirar.
Desci-lhe a outra alça e comecei a beijar-lhe o ombro direito, enquanto ela se perdia no meu pescoço. Todos os pêlos do meu corpo arrepiaram-se como se a morte tivesse passado por mim mesmo ali e agora. Mas estou vivo como nunca.
Deitei-a sobre a mesa e comecei a retirar-lhe a minúscula saia aos quadrados vermelhos e negros. Lentamente, pausadamente, como se o mundo tivesse parado e não existisse qualquer contorno temporal.
Em retorno, ela decide puxar a minha t-shirt, deixando-a propositadamente presa no meu pescoço, apenas e só para que aquele momento durasse mais.
Já sobre ela começo a abrir-lhe a camisa branca. Botão a botão cada vez a desejo mais. Os corpos juntam-se e agora já partilhamos o suor. Barriga com barriga, peito com peito, face com face, mão direita com mão direita.
Estando assim, colados, ela começa a desapertar o meu cinto verde e amarelo com o qual já tinha interagido quando me puxou contra si.
Começo a deslizar sobre si, deixando o toque da minha língua por toda a sua figura. Enquanto me movo, vou cuidadosamente baixando as suas cuecas brancas rendadas nas pontas que me deixam ainda mais louco. Quando estas chegam à parte mais baixa das suas pernas deixo-as ficar num equilíbrio fantástico entre os seus tornozelos.
Após alguns momentos ela puxa-me para cima, beijando-me violentamente os meus lábios, cada vez mais húmidos e ainda com resquícios de algo que era dela e que agora era nosso.
Continuamos assim largos minutos, beijando-nos exaustivamente como se fossemos dois mergulhadores que necessitam de oxigénio para estar debaixo de água. A pressão dos nossos corpos era infinita e só balançou quando ela começou a gemer tão agudamente e tão volumosamente que por momentos pensei que não existia maior felicidade que aquela.
Nas minhas costas ela foi deixando marcas daquele dia, daquele momento, que era tão perfeito que não queria que nunca acabasse.
Mas faltava uma coisa para que o momento fosse perfeito e ela insistiu que esse último destino fosse dentro dela.
E assim foi. Desprendi tudo o que sentia e deixei que ela o guardasse, sendo perfeitamente audível e memorável o último som de puro prazer durante esta última hora.
Desfaleci sobre o seu peito. Ela, de olhos fechados e respiração ofegante, continuou a acariciar-me, escolhendo agora o meu cabelo como o seu último poiso.
Após uns minutos beijei-a e ela permaneceu de olhos fechados, comprimindo agora o meu ombro direito que soltava um braço sobre o seu ainda trémulo corpo.
Os meus olhos agora já só viam o seu mamilo e o sol que entretanto já estava mais alto e intenso.
Ao longe, os edifícios por natureza aberrantes repletos de neons estavam mais belos que nunca. O céu parecia que os sustinha como que por artes mágicas, como se no fundo eles não tivessem agarrados ao solo, mas sim suspensos num equilíbrio perfeito com o azul que os cercava.
Em que pensas, diz ela. Em nada. Absolutamente nada, digo eu.
E era verdade. Parecia que tinha o meu corpo e mente tão preenchido com Myo que naquele momento nada mais se podia intrometer.
Foi então que ela, enquanto cuidadosamente afastava as suas mãos do meu corpo, disse algo que eu não estava mesmo à espera.
Estou grávida.
A minha resposta foi tão curta que, se alguém com as aspirações a ser um escritor - como eu, a dissesse, eu diria que não teria futuro nessa profissão.
Seria de esperar que alguém como eu tivesse mil e uma palavras para dizer naquele instante preciso, mas só uma conseguiu escapar.
- Amo-te
Esta palavra resumia todas as outras.
O ainda curto sol reluzia-lhe a pele. Estava calor, mas não muito. Apenas o suficiente para criar uma pequena bolsa de transpiração sobre o seu braço desnudado e sobre o qual caía a alça do seu soutien.
Eu gosto de soutiens brancos. São límpidos e não trazem mensagens ou obrigações e desejos atrás. Vibram quando o sol lhes bate em cima.
Uma gota de suor descia para o imenso vale do seu antebraço. Antes de chegar à mão travei-a com o meu dedo indicador. Provei-a.
Eu não sou um expert nestas coisas, longe disso, mas esta gota de suor sabia a tudo o que a nossa relação representava. Era salgada, quente e acima de tudo distinguia-se de todos os outros sabores que me percorriam a língua naquele instante.
Tentei acordá-la.
- Myo!
Ela não diz nada. Mantém-se imóvel e muito quieta. A segunda tentativa levou-a a mexer um pouco as ancas e a subir ainda mais a saia já de si curta. Não tinha collants e um dos seus sapatos já estava caído no chão.
Aproximei-me e na sua perfeita orelha deixei-lhe a primeira marca das 7 da manha.
Nisto, ela esboça um sorriso enquanto dorme. Os mais belos sorrisos são aqueles quando dormimos. É das poucas alturas em que somos verdadeiramente genuínos. Não existem regras de etiqueta. O resmungar representa exactamente aquilo que sentimos. O sorriso também. Era genuinamente feliz, reconfortante, como se estivesse ali à minha espera desde sempre, e eu destinado a cair nos seus alvos braços.
Soltei mais um pedido para acordar e finalmente ela abriu um dos seus rasgados olhos castanhos em minha direcção. O olhar que me lançou foi tão doce e perfeito que as minhas pernas tremeram.
Desviei um vaso de tulipas, que decora esta mesa branca, numa cozinha branca, com panos brancos e sentei-me a seu lado.
Instintivamente, e sem uma única palavra, ela virou-se para mim - descaindo a cabeça contra as minhas pernas e deixando o seu longo cabelo negro ficar marcado pelo sol sobre o azulejo da mesa.
A imagem era perfeita. A sensação ainda melhor. A alça do seu soutien estava cada vez mais baixa e o fio que trazia o pescoço afundou-se por dentro da camisa.
Comecei a percorrer o seu cabelo com os meus dedos finos, pulsando cada vez que lhe tocava na pele do seu fino pescoço. Parei numa das suas marcas, e cerquei-a com o toque em torno daquele sinal que as suas orelhas escondem. Não há nada mais excitante e estimulante que conhecer estas pequenas marcas repletas de unicidade de olhos fechados.
Podemos ter toda a intimidade do mundo com alguém, mas conhecer mentalmente os locais exactos destes traços de uma pessoa são os indicadores perfeitos do grau de intimidade de uma relação.
- Pára – disse ela dando uma ligeira risada que despertava os seus lábios e dentes perfeitos. – Estás-me a fazer cócegas – afiançou, num jeito de quem queria interagir e desejava muito mais que um simples toque.
Naquele instante, em que os seus lábios se moveram e os dentes se soltaram, o meu peito parecia um tornado de emoções, de tão pesado e agitado que estava. Decidi tomar outro rumo.
O sol agora já a preenchia completamente e até olhando apenas para os contornos da sombra sobre aquela mesa me levavam a suspirar.
Percorria agora a sua face com os meus dedos, ajeitando o cabelo que teimava em tapar a sua orelha direita. Cheguei-me um pouco para o lado e fiquei a olhar para ela como se este fosse o último olhar, no último minuto da minha vida.
Beijei-lhe as imperfeitas sobrancelhas e o sinal que tinha junto à vista esquerda. Ela abriu os olhos e começou a subir a sua face. Não tirava a vista dos meus lábios húmidos e trémulos tal o desenfreado volume de emoções que me assaltavam os sentidos. A minha mão agora cobria a sua nuca. O meu polegar aconchegava a sua orelha. O suor já começava a escorrer no meu peito.
Lentamente ela começa a colocar a sua mão no meu estômago e de forma circular começa a espalhar as pequenas gostas húmidas do meu peito por todo o meu tronco.
De uma vez só voltámos a estar sentados, enquanto nos beijávamos delicadamente. O sol batia-nos agora nas costas, formando na mesa, entre os espaços que deixávamos abertos, uma sombra que parecia ser a de um único corpo. É engraçado, mas as sombras são um pouco como aquela nossa visão infantil sobre as formas das nuvens. Vemos nelas o que queremos ver, pois estamos afectados em termos de sentidos por uma força no peito que quase não deixa respirar.
Desci-lhe a outra alça e comecei a beijar-lhe o ombro direito, enquanto ela se perdia no meu pescoço. Todos os pêlos do meu corpo arrepiaram-se como se a morte tivesse passado por mim mesmo ali e agora. Mas estou vivo como nunca.
Deitei-a sobre a mesa e comecei a retirar-lhe a minúscula saia aos quadrados vermelhos e negros. Lentamente, pausadamente, como se o mundo tivesse parado e não existisse qualquer contorno temporal.
Em retorno, ela decide puxar a minha t-shirt, deixando-a propositadamente presa no meu pescoço, apenas e só para que aquele momento durasse mais.
Já sobre ela começo a abrir-lhe a camisa branca. Botão a botão cada vez a desejo mais. Os corpos juntam-se e agora já partilhamos o suor. Barriga com barriga, peito com peito, face com face, mão direita com mão direita.
Estando assim, colados, ela começa a desapertar o meu cinto verde e amarelo com o qual já tinha interagido quando me puxou contra si.
Começo a deslizar sobre si, deixando o toque da minha língua por toda a sua figura. Enquanto me movo, vou cuidadosamente baixando as suas cuecas brancas rendadas nas pontas que me deixam ainda mais louco. Quando estas chegam à parte mais baixa das suas pernas deixo-as ficar num equilíbrio fantástico entre os seus tornozelos.
Após alguns momentos ela puxa-me para cima, beijando-me violentamente os meus lábios, cada vez mais húmidos e ainda com resquícios de algo que era dela e que agora era nosso.
Continuamos assim largos minutos, beijando-nos exaustivamente como se fossemos dois mergulhadores que necessitam de oxigénio para estar debaixo de água. A pressão dos nossos corpos era infinita e só balançou quando ela começou a gemer tão agudamente e tão volumosamente que por momentos pensei que não existia maior felicidade que aquela.
Nas minhas costas ela foi deixando marcas daquele dia, daquele momento, que era tão perfeito que não queria que nunca acabasse.
Mas faltava uma coisa para que o momento fosse perfeito e ela insistiu que esse último destino fosse dentro dela.
E assim foi. Desprendi tudo o que sentia e deixei que ela o guardasse, sendo perfeitamente audível e memorável o último som de puro prazer durante esta última hora.
Desfaleci sobre o seu peito. Ela, de olhos fechados e respiração ofegante, continuou a acariciar-me, escolhendo agora o meu cabelo como o seu último poiso.
Após uns minutos beijei-a e ela permaneceu de olhos fechados, comprimindo agora o meu ombro direito que soltava um braço sobre o seu ainda trémulo corpo.
Os meus olhos agora já só viam o seu mamilo e o sol que entretanto já estava mais alto e intenso.
Ao longe, os edifícios por natureza aberrantes repletos de neons estavam mais belos que nunca. O céu parecia que os sustinha como que por artes mágicas, como se no fundo eles não tivessem agarrados ao solo, mas sim suspensos num equilíbrio perfeito com o azul que os cercava.
Em que pensas, diz ela. Em nada. Absolutamente nada, digo eu.
E era verdade. Parecia que tinha o meu corpo e mente tão preenchido com Myo que naquele momento nada mais se podia intrometer.
Foi então que ela, enquanto cuidadosamente afastava as suas mãos do meu corpo, disse algo que eu não estava mesmo à espera.
Estou grávida.
A minha resposta foi tão curta que, se alguém com as aspirações a ser um escritor - como eu, a dissesse, eu diria que não teria futuro nessa profissão.
Seria de esperar que alguém como eu tivesse mil e uma palavras para dizer naquele instante preciso, mas só uma conseguiu escapar.
- Amo-te
Esta palavra resumia todas as outras.
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